As alterações no clima estão impactando significativamente o turismo, seja no Brasil ou no mundo. Segundo um estudo feito pelo Instituto de Pesquisa em Reputação e Imagem (Ipri), encomendado pelo Ministério do Turismo, que ouviu mais de 2 mil pessoas, 27% delas já desistiram de uma viagem no Brasil pelos efeitos de mudanças climáticas.
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Mudanças Climáticas e o Turismo
Os eventos extremos sofridos pelo Rio Grande do Sul são um dos maiores exemplos de como inundações, secas ou tempestades intensas podem destruir sonhos e acabar com vidas.
Mas, em se tratando especificamente do turismo, essas mudanças afetam a sazonalidade dos destinos e alteram ecossistemas reduzindo a biodiversidade. Ou seja, vidas selvagens e marinha hoje perfeitamente observáveis, trilhas, praias paradisíacas (como as ilhas Maldivas), cachoeiras e lugares históricos (como Veneza e Patagônias chilena e argentina) podem, simplesmente, deixarem de existir.
Estruturas físicas como hotéis, pousadas e restaurantes podem ser severamente danificados ou até mesmo de forma irreparável, além de desencorajar os turistas de visitarem estas áreas de risco, causando uma grave crise econômica e social dessas regiões.
Turismo – Parte do Problema ou Parte da Solução?
Se por um lado o turismo de massa afeta a biodiversidade, com alto consumo de energia em estabelecimentos turísticos, e emissões de gases de efeito estufa no transporte de turistas, o segmento é também impactado pelas mudanças climáticas e é um dos maiores interessados em resolver a questão. No entanto, segundo especialistas, o caminho é árduo.
“O segmento turístico mostra um crescente reconhecimento das questões climáticas e da necessidade de ação. Porém, há uma lacuna entre o reconhecimento dessas questões e a implementação efetiva de estratégias que abordem as crises ambientais de maneira concreta.
A literatura sugere que, apesar dos avanços em conscientização e formulação de políticas, o engajamento prático e a aplicação de medidas eficazes ainda são insuficientes”, afirma Alexandre Rodrigues, CEO e cofundador da Wizzi, plataforma de inteligência artificial que oferece sugestões de destinos personalizados para viajantes.
“Precisamos de unificações nas ações. No final, as empresas têm poder limitado sozinhas, uma vez que se elas não obtiverem resultados econômicos positivos dessas ações isso será insustentável. Deve haver uma combinação de incentivos fiscais e estratégias de longo prazo que algo realmente seja executado com consistência e por um longo período”, analisa Andre Dantas Vilar, CEO e fundador da Monis, fintech que ajuda pessoas a se prepararem financeiramente para suas viagens e tomarem as melhores decisões.
Um Efeito Bola de Neve
Desastres como os do Rio Grande do Sul mostram o grande impacto que os fenômenos climáticos devem causar ao estado ao longo do tempo. Rodrigues explica que a atratividade turística de destinos em aéreas de riscos pode diminuir.
“Cancelamentos não apenas resultam em perdas diretas de receita, mas também afetam a percepção de segurança e a atratividade de um destino, o que pode ter repercussões de longo prazo sobre a demanda turística”.
Segundo ele, será necessário investir ainda mais em marketing e na reconstrução da imagem do destino após eventos adversos. O especialista diz que além dos custos envolvendo infraestrutura, acomodações alternativas e políticas de reembolso, há os custos indiretos como danos à reputação e a diminuição da fidelização do cliente.
Villar, no entanto, tem uma visão um pouco mais otimista. Para ele essas mudanças devem levar tempo até aconteceram e as medidas precisam focar no momento presente.
“O ponto principal é não tentar prever o futuro nesse aspecto, e sim cuidar do presente e ter atitudes que realmente colaboram para preservar o que temos hoje. O turismo sempre vai ser alimentado pela curiosidade e vontade das pessoas de conhecerem o novo”, diz.
Regiões Norte e Sul Correm Mais Riscos
No Brasil, as regiões do Norte e do Sul do país serão mais afetadas pelas mudanças climáticas, segundo Antonio Borges, CEO da PlantVerd, uma startup fornecedora de serviços ambientais para restaurar ecossistemas.
“As empresas que trabalham diretamente com turismo devem estar preparadas pra isso, tanto pela segurança dos seus clientes, com previsão de medidas de resgate caso aconteça, e lutando a respeito da resiliência desses pontos turísticos”, afirma.
As regiões Centro Oeste e Sudeste, por outro lado, devem continuar sofrendo com a seca. Em qualquer estado, a situação é alarmante.
“Se o turismo depende daquela região, ele tem que levantar a bandeira para que aquela região não suma do mapa. É um papel ativo e importante na luta e no combate às mudanças climáticas”, completa.
Borges acredita que a palavra de ordem é resiliência e que o Brasil precisa se mexer, em muitos sentidos diferentes. A catástrofe no Rio Grande do Sul, que tem ampliado seus problemas com a falta de água potável e de energia, com risco de morte, e ainda recentemente, a maior cidade do país, São Paulo, sem luz por dias, são apenas alguns dos exemplos citados por ele.
Inclusive, o especialista é categórico ao afirmar que as enchentes nas mesmas cidades e regiões atingidas no Sul voltarão a acontecer, de forma tão intensa quanto esta e em menos tempo do que se espera. Para ele, boa parte dos recursos que o Brasil recebe do exterior estão voltados ao reflorestamento, mas diz que é preciso ter uma contrapartida e olhar mais para a população.
“Nós não estamos atuando o suficiente. Esses acontecimentos mostram que nós não estamos preparados para esses impactos. É preciso ter resiliência no sentido de direcionar um olhar completo para esses problemas”, afirma.
Então o que o Turismo Pode Fazer para Lidar e Mitigar os Riscos da Situação?
Os especialistas listaram medidas que o setor de turismo pode tomar nos próximos anos, como utilizar meios de transportes mais sustentáveis, com menor emissão de CO2, adquirir materiais sustentáveis de fornecedores certificados, utilizar energias renováveis, além da implementação de políticas de gestão ambiental.
Algumas estratégias para lidar com as mudanças climáticas, segundo Rodrigues, são:
Desenvolvimento de Resiliência
Investir em infraestrutura e práticas que aumentem a resiliência dos destinos turísticos. Isso pode incluir a construção de estruturas que resistam a eventos climáticos extremos e a adoção de sistemas de gestão de recursos naturais que promovam a sustentabilidade a longo prazo.
Gestão de Riscos
Implementar planos de gestão de riscos que antecipem possíveis cenários climáticos adversos. Esses planos devem incluir estratégias para a rápida recuperação pós-desastre, garantindo a continuidade dos serviços turísticos e a segurança dos visitantes.
Educação e Conscientização
Fomentar programas de educação e conscientização sobre as mudanças climáticas para todos os stakeholders do setor, incluindo operadores turísticos, hoteleiros, e os próprios turistas.
Turismo Sustentável
Promover formas de turismo que minimizem os impactos ambientais, como o ecoturismo e o turismo de base comunitária, que também contribuem para a conservação ambiental e o bem-estar das comunidades locais.
Adaptação de Ofertas Turísticas
Adaptar e diversificar as ofertas turísticas para responder às mudanças nos padrões climáticos. Isso pode incluir a promoção de destinos menos conhecidos ou menos afetados pelas mudanças climáticas, bem como ajustar as temporadas turísticas de acordo com novos padrões climáticos.
Realidade Virtual, IoT e as Tecnologia que Devem Aprimorar Eficiência em Gestão Climática
O turismo também deve se preparar para adotar abordagens proativas e incorporar tecnologias emergentes como a de Realidade Virtual (VR) e Realidade Aumentada (AR), educando os turistas sobre o impacto ambiental e cultural de suas viagens, além de oferecer alternativas que possam reduzir a emissão de carbono.
A Internet das Coisas (IoT) e a machine learning, por exemplo, podem personalizar as experiências de viagem, otimizando operações e promovendo práticas sustentáveis.
“Sistemas de IoT podem ajudar em uma gestão mais eficiente de recursos nos hotéis, como energia e água, e plataformas baseadas em blockchain podem garantir transações mais seguras e transparentes, bem como ajudar a verificar a sustentabilidade de práticas e produtos oferecidos.
O mercado de turismo deve, portanto, não apenas responder aos desafios imediatos, mas também antecipar tendências futuras, utilizando a tecnologia para criar um setor mais resiliente, responsável e alinhado com as necessidades dos viajantes modernos”, afirma o CEO da Wizzi.
Brasil e os Próximos Passos Diante das Mudanças Climáticas
A pergunta de milhões é: no que o Brasil (e o mundo) podem investir ou fazer para mitigar o problema das próximas mudanças climáticas que devem ocorrer? A resposta não é tão simples, mas Antonio Borges diz que é possível saber para onde “não” ir: “não adianta nós reconstruirmos as cidades nos mesmos lugares que elas estavam”.
Ele afirma que existe um plano chamado Brasil 2040 onde há todas as informações de áreas que podem ser afetadas.
“Com base nisso, precisamos começar a fazer um investimento estrutural, no realojamento de cidades, em abastecimento público e a garantir água (hoje muito usada para energia). Por que não investir em energia solar e deixar essas águas e reservatórios para a população? São várias questões estruturais de médio a longo prazo, e que se não forem tratadas agora, pode ser que fique tarde”, finaliza.
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