Você já ouviu falar em skiplagging? Também conhecido como “destino oculto” ou “hidden city ticketing”, o termo tem ganhado espaço nos debates sobre estratégias para economizar em passagens aéreas. A técnica promete ajudar o passageiro a encontrar voos mais baratos — mas o que parece uma solução esperta pode acabar trazendo dores de cabeça.
Recentes casos nos Estados Unidos trouxeram o assunto para pauta novamente. Por essa razão, neste artigo, explicaremos o que é skiplagging, como funciona, os riscos envolvidos. Além disso, abordaremos o posicionamento de algumas companhias aéreas e a legislação brasileira sobre o assunto, além de trazer um panorama internacional sobre o tema.
O que é Skiplagging e Como Funciona
O skiplagging é uma prática em que o passageiro compra uma passagem aérea com conexão, mas desembarca no destino intermediário ao invés de seguir até o destino final. A estratégia torna-se interessante quando a tarifa do voo com conexão sai mais barata de um voo direto para o local onde se deseja realmente chegar.
Exemplo prático: imagine que você quer voar de Porto Alegre para o Rio de Janeiro. Ao pesquisar, encontra um voo Porto Alegre para Recife com conexão no Rio de Janeiro, por um preço bem menor do que o voo direto. Você então compra o bilhete até Recife, mas desembarca no Rio de Janeiro, ignorando o último trecho.
Esse tipo de tarifa mais barata pode acontecer por uma série de fatores, como menor demanda, acordos comerciais entre companhias aéreas ou promoções específicas de rotas mais longas. Alguns sites foram criados com o objetivo de identificar e divulgar essas oportunidades.
Skiplagging é Legal no Brasil?
No Brasil, o skiplagging não é considerado crime. A prática, no entanto, é expressamente proibida pelas regras contratuais das companhias aéreas. De acordo com a Resolução nº 400/2016 da ANAC, os passageiros devem respeitar o contrato de transporte estabelecido no momento da compra. E, conforme esses contratos, o passageiro deve cumprir todas as etapas do itinerário. Ao deixar de embarcar em parte do voo, ele pode ser acusado de violar os termos de serviço da companhia aérea.
Não há consenso jurídico sobre o tema, e tampouco jurisprudência consolidada. No entanto, companhias podem aplicar sanções contratuais como:
- Cancelamento do restante da viagem (inclusive do voo de retorno);
- Cobrança da diferença tarifária com base no trajeto realmente realizado;
- Multas e restrições futuras, como bloqueio de contas de programas de fidelidade;
- Suspensão ou perda de milhas acumuladas.
Riscos do Skiplagging
Aparentemente simples, a estratégia pode trazer consequências indesejadas. Por exemplo, em alguns casos se você não comparecer a algum dos trechos, a companhia pode cancelar automaticamente os demais voos da reserva. Outro ponto importante, você somente poderá se utilizar da estratégia se estiver viajando sem bagagem despachada, uma vez que elas seguirão até o destino final.
As companhias aéreas cada vez mais buscam coibir esse tipo de prática. Alguns relatos indicam que entre os riscos estão a cobrança da diferença entre o bilhete pago e o valor do trecho voado. As companhias alegam que houve conduta de má fé contratual por parte do passageiro. Ou seja, você pode vir a ser processado pela companhia por descumprimento contratual e perdas financeiras.
Além disso, é possível que a companhia exclua você do programa de milhas, anule benefícios ou até bloqueie sua conta. O que irá gerar um grande dor de cabeça, especialmente se você possuir uma quantidade considerável de milhas em sua conta ou, ainda, possuir status junto à companhia.
Casos de Repercussão
Nos Estados Unidos, embora o skiplagging também não seja ilegal, as companhias têm agido com mais rigidez. Um dos casos mais comentados aconteceu em 2023, quando um adolescente foi detido pela American Airlines por tentar desembarcar em uma conexão em Charlotte (Carolina do Norte) ao invés de seguir até Nova York, como indicava seu bilhete. A empresa cancelou a passagem e obrigou a família a comprar um novo voo.
Casos como essa prática têm se tornado mais comuns, algumas medidas foram adotadas por companhias aéreas norte-americanos levando passageiros a enfrentarem consequências mais pesadas.
Em alguns relatos passageiros têm sido incluídos em listas internas de alerta das companhias a fim de indicar para possível conduta de skiplagging. Isso, inclusive, pode resultar em restrições em futuras emissões ou mesmo interrogatórios e retaliações no próprio aeroporto no momento do check in ou embarque.
Além disso, em alguns casos as companhias ameaçam retirar os status elites desses passageiros e até mesmo suas milhas acumuladas.
Em um caso internacional semelhante, a Lufthansa chegou a processar um passageiro em 2019 por abandono de trecho, alegando perdas financeiras. Apesar da ação ter sido perdida pela companhia por questões técnicas, o tribunal reconheceu que havia um argumento válido a ser considerado.
O que Dizem as Companhias Áreas
O argumento das companhias aéreas é que o skiplagging atrapalha o planejamento de vendas e pode gerar “assentos vazios” que poderiam ter sido vendidos por valores mais altos. Além disso, há questões operacionais, como bagagens não recolhidas ou redistribuição de passageiros.
Na outra ponta, críticos da indústria aérea apontam para o overbooking (venda de mais assentos do que a capacidade da aeronave), o uso de algoritmos opacos para definir tarifas e a ausência de transparência nos preços.
Para muitos, o skiplagging seria apenas uma resposta às distorções já existentes. O próprio fundador de um dos sites mais famosos do mundo, Aktarer Zamam, responsável por difundir a estratégia defende este posicionamento. Apesar dos processos movidos por companhias como United Airlines, American Airlines e Southwest, Zaman defende que está apenas oferecendo uma ferramenta que empodera os passageiros.
Vale a Pena Usar o skiplagging?
A resposta depende do risco que o passageiro está disposto a correr. Em alguns casos, a economia pode ser grande. Em outros, mínima. Abaixo, apenas para ilustrar o que poderia vir a ser uma economia com uso desta estratégia, ilustraremos dois cenário fictícios.
Imagine que você tem um voo direto SP–Brasília custando R$ 1.400,00. Você encontra uma oferta de voo SP–Salvador (com escala em Brasília) pelo valor de R$ 690.00. Caso você adquira um bilhete desta segunda opção, terá uma economia de R$ 710,00.
Agora imagine um voo internacional direto entre o Aeroporto de Nova Iorque (JFK), nos Estados Unidos, e o Aeroporto de Amsterdã, na Holanda. Este voo custa US$ 1.500. No entanto, você encontra um voo entre JFK e Londres, na Inglaterra, com escala em Amsterdã por apenas US$ 500. Neste cenário, você teria uma economia de US$ 1.000
Entretanto, em ambos os cenários há o risco real de ser penalizado. Se for pego, a economia pode ser anulada por multas, cancelamentos ou exclusões de programas de milhagem.
Tome Nota
Skiplagging é uma prática controversa e que ganhou popularidade no universo das milhas. Existem aqueles que se aproveitam e utilizam frequentemente tal prática em viagens, como forma de economia. Inclusive, é comum vermos esse tópico sendo abordado em cursos e divulgações em redes sociais.
No entanto, recentes casos, especialmente nos EUA, trouxeram novamente a polêmica à tona. Embora a prática ainda não seja considerada ilegal ou crime, o passageiro deve estar ciente de que está assumindo riscos contratuais e operacionais.
A nossa dica para quem quer se fazer valer dessas vantagens é: avalie com cuidado, leia os contratos e, se decidir usar a estratégia, esteja preparado para as possíveis consequências. Economizar é bom — mas evitar problemas desnecessários pode ser ainda melhor.
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