A companhia da Arábia Saudita, Riyadh Air, já garantiu slots no aeroporto de Londres Heathrow e deve realizar seu voo inaugural em outubro.
A estreia da Riyadh Air promete ser tudo, menos discreta. Ainda sem ter iniciado voos comerciais, a nova companhia aérea da Arábia Saudita já cravou sua bandeira em um dos aeroportos mais disputados e estratégicos do mundo, o de Londres Heathrow.
Ao que tudo indica, a partir de 26 de outubro de 2025, a empresa lançará voos diários entre Riyadh (RUH) e Heathrow (LHR), operando com um Boeing 787-9, movimento que pode redefinir o mapa de conectividade entre Europa e Oriente Médio.
Slot de ouro
A Riyadh Air conseguiu garantir um par de cobiçados slots matinais em Heathrow graças a um raro acordo de troca com a British Airways, derivado de medidas antitruste adotadas após a compra da BMI pelo grupo IAG, em 2012. Os dados constam em registros públicos da Airport Coordination Limited, que revelam o voo RX401 pousando em Londres às 07h30 e decolando de volta como RX402 às 09h30.
A conquista é tudo menos simbólica. Tem um impacto concreto, prático e econômico de muito peso, afinal, Heathrow é um dos aeroportos mais congestionados e disputados do mundo. Um slot matinal como esse tem um valor financeiro altíssimo e relevância estratégica global. E a Riyadh Air sabe disso.
Mais do que uma vitória meramente administrativa, a garantia desses slots é uma declaração de intenções da companhia saudita, que quer competir com os grandes players desde o primeiro voo.
Estreia com frota provisória
Como a entrega de suas novas aeronaves pela Boeing está atrasada, a estreia será feita com o que há disponível: um Boeing 787-9 ex-Oman Air, com 288 assentos, incluindo 30 na classe executiva em Apex Suites (2-2-2). A aeronave, inicialmente usada para certificações e treinamentos, agora ganhará papel de protagonista na estreia da companhia.
Esse modelo é temporário, até que cheguem os jatos com a nova identidade visual e cabine definitiva da Riyadh Air.
Por que Londres?
Não é coincidência que a Riyadh Air esteja mirando tão alto. A rota Riyadh–Heathrow movimentou cerca de 500 mil passageiros nos últimos 12 meses, com tarifas médias em torno de US$ 1.400 por trecho. Diferente da linha Londres–Jeddah, voltada majoritariamente ao turismo religioso, o voo para a capital saudita tem perfil mais rentável de passageiros, como empresários, representantes de governo, estudantes e visitantes em busca de eventos, como o megafestival Riyadh Season.
A Riyadh Air será a quarta companhia a operar esse trecho, somando-se a British Airways, Saudia e Virgin Atlantic — esta última também estreante, com voos desde março de 2025. Espera-se que a nova empresa colabore com Virgin e Delta, suas parceiras estratégicas, oferecendo até dois voos diários combinados.
Projeto Vision 2030
Fundada em 2024 e financiada pelo governo saudita, a Riyadh Air é peça-chave no plano Vision 2030, que busca diversificar a economia saudita com foco em turismo, inovação e conectividade global. O objetivo da companhia é servir mais de 100 destinos até o fim da década, com uma frota composta por Boeing 787-9, Airbus A350-1000 e A321neo.
Mas o caminho até Heathrow não foi sem obstáculos. A entrega de aeronaves pela Boeing atrasou, e a companhia deve receber apenas metade das unidades prometidas para 2025. Isso, no entanto, não impediu que o voo inaugural avançasse com o que há disponível, um reflexo da urgência e estratégia envolvidas.
O que esperar
A Riyadh Air fez uma jogada muita bem calculada ao conquistar um slot valiosíssimo em Heathrow. Mais do que uma estreia, este é um gesto simbólico e geopolítico. Explico: uma nova companhia, com ambições globais, iniciando as operações não em um mercado secundário, mas sim no epicentro da aviação europeia.
Há toda a estrutura para um grande voo inaugural em outubro, mas ainda faltam as etapas finais para a operação decolar de fato.
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