O crescimento do turismo de massa, ou overtourism, está gerando preocupações em destinos ao redor do mundo, com impactos negativos sobre moradores e o meio ambiente. Para lidar com o problema, cidades como Veneza estão implementando taxas e restrições, mas a eficácia dessas medidas é questionável, exigindo soluções mais equilibradas e sustentáveis.
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Turismo de Massa
Em maio de 2023, um pequeno vilarejo às margens de um lago chamado Hallstatt, na Áustria, chamou a atenção do mundo quando os moradores bloquearam um dos principais túneis de acesso a diversas cidades. Meses mais tarde, as autoridades locais decidiram colocar um muro na frente da melhor vista para os alpes austríacos – que foi desfeito logo depois.
O problema de Hallstatt, que tem apenas 800 habitantes, foram os mais de 10.000 turistas que por ali passavam todos os dias. E esse foi apenas a ponta do iceberg de um termo que se tornou um sério problema no mundo inteiro: o overtourism.
O turismo de massa ou excessivo como é conhecido, destaca o número crescente de viajantes concentrados em um único lugar e em um determinado tempo, em detrimento de moradores e meio ambiente. O turismo então tornou-se uma faca de dois gumes: um mercado representativo dentro do PIB da economia de um país e um verdadeiro terror de degradação social e ambiental.
E de que lado, afinal, estamos?
Turismofobia
Destinos do mundo todo estão revoltados com o fluxo de turistas. Não há muito tempo, moradores de Barcelona utilizaram pistolas de água em viajantes de um restaurante. Apesar das atitudes, as reclamações são válidas.
Inquilinos estão sendo despejados pelos proprietários de imóveis que desejam utilizar seus bens para aluguéis de temporada de férias, e os preços das casas para compra local aumentaram absurdamente. Praias ficam lotadas, há filas excessivas em todos os lugares, danos em locais históricos e até a expulsão de moradores pelos restaurantes locais que preferem turistas.
Além disso, há os danos causados em locais históricos e no meio ambiente. Entre 1999 e 2000, o filme “A Praia”, estrelado por Leonardo DiCaprio fez um grande sucesso e a Baía de Maya, na Tailândia, que foi palco das filmagens virou o centro das atenções dos turistas. As práticas de mergulho, snorkel, toque nos corais (o que sempre é informado para NÃO ser feito) e a quantidade de embarcações que ancoram nas águas causaram a degradação ambiental.
Segundo a Organização Mundial De Turismo das Nações Unidas, as emissões de carbono provenientes do turismo vão crescer 25% até 2030 em relação aos níveis de 2016.
Regulamentações
Existem dois fatos sobre o turismo de massa. O primeiro é que houve uma “ressaca” durante os anos de pandemia, onde as pessoas começaram a enxergar a vida de uma forma diferente! Presas e reclusas, ao menor sinal de liberdade, notaram que é preciso aproveitar mais os momentos, passar novos perrengues, construir memórias ao lado de pessoas queridas e, por mais que falte o dinheiro no fim do mês, elas estão dispostas a conhecer outras culturas e o mundo.
O segundo é que a população sempre foi estimulada a conhecer novos lugares e não o contrário. Viagens para todos os cantos do planeta se tornaram sonhos no imaginário populacional que agora quer tirá-los do papel.
E nunca houve, de fato, uma regulamentação do setor que impedisse certos comportamentos de consumo por parte do turista e nem que contivesse as agências e empresas envolvidas a se comprometerem com a sustentabilidade dos destinos visitados. No primeiro caso, supõe-se que o visitante seja sempre alegre, educado e gentil, enquanto no segundo, bem… somente agora estamos tendo essa conversa.
A ausência de regulamentações reais fez com que cada destino e empresa tomasse para si a responsabilidade de estabelecer um controle e, portanto, não há nenhuma solução real.
Cada um por si e Taca-lhe Taxa!
Uma das soluções que os destinos têm tentado para frear o turismo de massa é a cobrança de taxas ou impostos municipais. Principalmente em cidades do continente europeu e no Japão, que tem experimentado um aumento significativo de visitantes desde o retorno da pandemia.
Uma cobrança extra para se entrar no destino por um dia, por noite hospedado e até pela entrada em atrações antes gratuitas. Além de algumas proibições e multas, para embarcações que atracam em ilhas e outros destinos, consumo de álcool nas ruas, etc. Chegaram a tal ponto que até mesmo passear de carro foi proibido, bem como se sentar em fontes e escadarias.
Mas isso basta? A priori, não. Na verdade, sua eficácia é discutível.
Quando Veneza implementou a cobrança de 5 euros (que seriam, na cotação de hoje, algo em torno de 30 reais), muitos pesquisadores já duvidavam de que daria certo. E não deu. Recentemente, foi anunciado que a cidade deve aumentar ainda mais esse valor e insistir no “erro” para tentar transformar em “meio acerto”.
Para pesquisadores, Veneza é personificação do overtourism, com o nascimento até do termo “Síndrome de Veneza”, onde há o declínio da população permanente na cidade que se torna um local inviável de se viver.
Afinal, Existe uma Solução para o Turismo de Massa?
Para gerenciar multidões, sem ferir o livre arbítrio e o direito de ir e vir, é necessário primeiro analisar e determinar suas causas. O que, de verdade, não foi feito.
No momento da afobação entre estimular turistas e recuperar a economia e, de repente, pedir para que se retirassem, me parece que os destinos tentaram pular direto para uma solução sem analisar as variáveis. Consequentemente sua eficácia tem sido quase nula.
Alguns especialistas indicam que medidas econômicas específicas (como as taxas) aliado às políticas não econômicas (como a educação dos visitantes) é a melhor opção.
Segundo a Murmuration, uma startup francesa que monitora impactos ambientais do turismo usando dados de satélites, 80% dos viajantes visitam apenas 10% dos destinos turísticos do mundo – grande parte impulsionado pelas redes sociais.
Isso significa que, além da educação cultural do turista a respeito dos lugares que visita, há 90% do mundo desconhecido aos seus olhos – e pronto para ser explorado! Mas é preciso tomar cuidado para não cometer com eles os mesmos erros cometidos com os destinos de hoje.
A meu ver, não existe uma fórmula mágica (e muito menos matemática) que servirá igualmente para todos. O excesso de turismo é preocupante, mas ainda é sazonal para alguns lugares.
Em outras palavras, a combinação de medidas precisa ser projetada especificamente para cada destino, com a devida análise de seus ônus e bônus. Afinal, um setor que representará 11,6% da economia global até 2033 precisa continuar e caminhar rumo a viagens mais sustentáveis e não ser levado a um nível doentio de “turismofobia”.
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