Cidades da Europa e da Ásia estão aumentando suas taxas turísticas como forma de combater o overtourism, mas a eficácia dessa medida é cada vez mais questionada. Muitos turistas simplesmente não se incomodam com os custos extras, e a destinação pouco transparente da arrecadação alimenta o debate sobre o real impacto dessas cobranças.
O que está por trás dessa onda de aumentos é o esforço de autoridades locais para controlar o turismo em massa. Já noticiamos por aqui medidas como a possível limitação de cruzeiros na Grécia e as novas regras em Veneza para conter a superlotação. Agora, a estratégia ganha uma nova camada: cobrar mais para ver se menos gente aparece.
Eficácia das Medidas
Veneza é um bom exemplo para começar. Em agosto do ano passado, publicamos um artigo sobre a cobrança de 5 euros por dia dos visitantes. A medida, em fase experimental, arrecadou 2,2 milhões de euros – mais do que o esperado. E isso diz muito: para muitos viajantes, cinco euros não pesam diante da chance de visitar uma das cidades mais icônicas do mundo. O governo local chegou a considerar dobrar a taxa, mas enfrenta resistência dos próprios moradores, que reclamam de ter que comprovar residência e informar quem está visitando suas casas. Na prática, a taxa não reduziu o número de turistas.
Situação parecida ocorre em Maiorca, na Espanha. A ilha, que tem cerca de 960 mil habitantes, recebeu aproximadamente 13 milhões de visitantes em 2024. O imposto de hospedagem, criado em 2016 e atualmente entre 1 e 4 euros por dia, pode subir para 6 euros em breve – exceto no inverno. Ainda assim, a demanda segue firme. Como resume Jaume Rosselló, professor de Economia Aplicada da Universidade das Ilhas Baleares
“O efeito desses impostos na demanda turística é muito pequeno.”
Barcelona, por sua vez, cobra até 7,50 euros por diária, dependendo do tipo de acomodação. Em Paris, o valor pode chegar a 16 euros por noite. Berlim adota um modelo diferente, com imposto de 7,5% sobre o valor da hospedagem. Mesmo assim, essas cidades seguem entre as mais visitadas do planeta.
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Já o Butão adotou uma abordagem mais radical – e, ao que tudo indica, mais eficiente. O país cobra 200 dólares por dia como “Taxa de Desenvolvimento Sustentável”. O valor elevado, somado à obrigatoriedade de contratar guia e motorista, seleciona o perfil de turista que o país deseja atrair: menos volume, mais qualidade. Segundo as autoridades locais, só em 2023 foram arrecadados 26 milhões de dólares, revertidos em saúde, educação, infraestrutura e projetos ambientais.
A experiência do Butão chama atenção porque há clareza sobre a aplicação da arrecadação. E esse é justamente um dos principais pontos de crítica nos demais destinos: afinal, para onde vai o dinheiro das taxas turísticas?
Em Barcelona, por exemplo, os 100 milhões de euros arrecadados com as taxas turísticas representam a terceira maior fonte de renda da prefeitura. Parte dos recursos é usada em projetos como o Plano Climático Escolar, que instala sistemas de controle térmico em escolas públicas. Já em Berlim, os cerca de 90 milhões de euros recolhidos em 2024 foram incorporados ao orçamento geral da cidade, sem destinação específica. O mesmo ocorre em Amsterdã, onde a arrecadação prevista para este ano é de 260 milhões de euros.
Como observa Harald Zeiss, professor do Instituto de Turismo Sustentável de Wernigerode, a justificativa para a cobrança geralmente envolve sustentabilidade e compensações ambientais. No entanto, quando os cofres públicos estão sob pressão, os recursos acabam sendo direcionados para áreas mais amplas e menos ligadas ao turismo ou à preservação cultural.
Apesar das taxas turísticas, a verdade é que os viajantes continuam fazendo suas malas. Como resume o pesquisador Jaume Rosselló, “para a maioria das pessoas, sair de férias não é um luxo, mas uma necessidade básica”. E se essa necessidade inclui pagar uma taxa a mais, que assim seja. Ainda mais se esse valor tiver um propósito claro e positivo.
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