O Direto da Galley de hoje é para aqueles que, como eu, são ‘dog lovers’ de carteirinha!
Confesso que sempre desejei ter a bordo um cão-guia para deficientes visuais, observar a interação dele com o dono, a obediência e entrega. Os animais nos ensinam muito sobre cordialidade, amor incondicional e obediência.
Os cachorros mais usados para a condução de cegos são o labrador, o golden retriever, o pastor alemão. Mas muito mais importante que a raça é o próprio cão em si. Macho ou fêmea, o animal tem que ser muito especial, com temperamento dócil e dotado de extrema paciência e determinação.
O adestramento minucioso e específico começa quando ainda são filhotes e estima-se que no Brasil exista em torno de 200 destes cães adestrados.
Eu nunca tive o prazer de tê-los a bordo nos voos internacionais ou domésticos, mas fui surpreendida na aviação brasileira com o ‘animal de suporte emocional’.
Com uma documentação apropriada, o animal de porte pequeno embarcava na cabine desde que estivesse de acordo com algumas recomendações. Ter boa saúde, estar na coleira, caber abaixo do assento à frente e não oferecer perigo aos outros passageiros.
Em alguns anos voando pelo Brasil, tive algumas experiências com cães a bordo que é difícil de acreditar, mas que aconteceram de verdade.
Decolando na ponte aérea. O shitzu lindo no colo da dona, folgado, se estica e apoia a cabeça na perna do passageiro ao lado, de terno e impecável. Uma situação fofa e constrangedora, mas o senhor não se incomodou, era também um ‘dog lover’.
Agora imagina durante um voo noturno, a cabine apagada e uma criança grita. Pego minha inseparável lanterna e saio da galley traseira, caminho iluminando o corredor do A321. Me deparo com 2 olhos brilhantes, um pequeno bichinho da raça Yorkshire havia fugido da dona, que vinha logo atrás chamando por ele. Toby estava de volta na coleira!
Uma senhora embarcou de GRU para SSA, assento 1C. Se acomodou e colocou um tapete higiênico para o cãozinho se deitar. Ele não quis, não parecia muito à vontade com ela, se esticava na coleira e em poucos segundos estava no meio do corredor. Por várias vezes insisti para que o animal ficasse no espaço apropriado, mas não houve jeito daquela senhora controlar a vontade do animal.
Pergunto se aquele cachorrinho era mesmo de apoio emocional e depois de 1 hora de voo com transtornos e latidos, ela finalmente confessa que o animal era da filha. Como você se utiliza de um animal que não é seu para ter conforto emocional a bordo???
Um voo lotado, novamente um A321, deixei a galley dianteira para atender um chamado de um passageiro e ao sair a cortina foi deixada aberta, procedimento normal. De repente noto que alguém havia fechado a cortina, acelero o passo e chego rapidamente na galley. Inacreditável a cena: dois cães soltos brincando como se estivessem em um playground! Imediatamente pedi aos donos que recolhessem os animais e retornassem aos seus assentos.
Fui questionada se não gostava de cães. Senhoras, eu tenho 2 shitzus que amo, mas galley não é lugar de cachorro, sorry!
Uma outra vez me deparei com uma moça entrando no banheiro com o cãozinho para ele fazer xixi. Não pode senhora, sinto muito!
Nesta última aventura canina a bordo, me apresentei no GIG 06:05 da manhã, início de uma chave de voo indo para GRU. Tudo pronto para fechar a porta da aeronave e chega correndo uma passageira com um poodle de apoio emocional sendo puxado pela coleira, uma cabin bag, mais 2 bolsas.
O vôo lotado e a passageira tinha o assento da janela 3A. Me ofereci para ajudar a guardar a mala para não atrasar ainda mais nossa decolagem. No momento em que coloquei a mão na bagagem o animal literalmente voou em cima de mim e me mordeu a perna.
A passageira se sentou e eu corri para meu assento. O chefe de cabine já havia comunicado o acontecido ao comandante que me liga perguntando se eu queria desembarcar e reportar o ocorrido.
Nunca pensei em passar uma situação desta a bordo. O avião parado na cabeceira da pista e eu no toilet analisando o que o cachorro tinha feito na minha perna. Achei melhor seguir viagem. A passageira foi repreendida e eu reportei o caso para a empresa.
Meses depois o benefício de levar o animal de apoio emocional a bordo foi suspenso.
Em casa, enquanto eu escrevia meu relatório, meus shitzus me olhavam como que aguardassem a vez deles de se entregar ao carinho e afeto de uma mãe voadeira e ausente.
Hoje, com a pandemia, eles são minha melhor companhia! Não são obedientes como os cães treinados, mas, com certeza são meu apoio emocional, e fora da galley! 🐶🐶❤️
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