Neste artigo da nossa seção Histórias e Viagens, nosso leitor Fernando compartilha conosco como ele escapou, no último minuto, do lockdown no Norte da Itália. Algo bem diferente do último post da Simonetta!
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Agora, vamos à história do Fernando!
Meu Sonhado Intercâmbio
No fim do ano de 2019 fui selecionado para realizar um intercâmbio acadêmico em Milão, Itália, para o primeiro semestre letivo de 2020. Era um sonho de anos que estava se tornando realidade.
Um dia antes do início das aulas, enquanto eu estava em mais uma das minhas viagens, recebi a notícia de que as aulas, que tinham previsão de início em 24 de fevereiro, seriam suspensas por uma semana em razão do surto do coronavírus.
Até então, todos estavam tranquilos, considerando que o número de infectados não ultrapassava 200, e que o prefeito de Milão tinha lançado a campanha #Milanonoseferma (Milão não se fecha) – que se provou um erro crasso posteriormente.
Em 28 de fevereiro, foi declarado o fechamento de todas as escolas e universidades da região norte da Itália por mais duas semanas. Naquele momento, eu já estava certo de que a situação não melhoraria em um curto período de tempo. Ou seja, eu já estava certo do cancelamento do meu intercâmbio, apenas não possuía data de retorno definida.
Em vista disso, me encontrei com alguns amigos naquela mesma tarde para discutir alguns assuntos e, principalmente, a situação que a cidade estava passando. Todos estavam aflitos, mas não o suficiente para cogitarem em cancelar o intercâmbio. Foi naquela reunião vespertina que surgiu a ideia de ir a Lugano, Suíça, no dia seguinte (07 de março).
Viagem para a Suíça
Eu, já certo do meu retorno, estava em clima de despedida, e não estava considerando fazer mais viagens. Contudo, após um pouco de reflexão, resolvi, de última hora, viajar com eles, já que não sabia quando a oportunidade surgiria novamente.
No Sábado, 07 de março de 2020, tudo ocorreu conforme planejado e, por volta das 19h, meus amigos voltaram para Milão, enquanto eu, sozinho, fui em direção a Zurich, já que era uma cidade que eu sempre quis visitar.
Cheguei no hotel e, meia hora depois, jornais locais italianos começaram a divulgar uma notícia que mudaria todo o rumo de Milão – a cidade entraria em quarentena total no dia seguinte. Sim, tudo ocorreu de sábado para domingo.
Minha intenção, até então, era permanecer somente um dia em Zurich e retornar a Milão no dia seguinte (08). Assim, portava meu cartão, meu passaporte, meu celular, cerca de 100 euros, além de uma muda de roupa – nada mais.
No mesmo instante, entrei em contato com minha família, pois somente duas alternativas seriam possíveis: 1) permanecer em Zurich e regressar ao Brasil com a roupa do corpo ou 2) arriscar a volta para Milão para recuperar todos os bens materiais lá deixados (notebook, documentos, vestimentas e dinheiro).
A primeira opção pareceu mais segura, mas largar literalmente tudo na Europa e voltar para o Brasil sem nada não seria uma opção viável. Já a segunda opção era muito arriscada, já que eu corria o risco de (i) não conseguir entrar na Itália e (ii) caso conseguisse entrar, ficar em quarentena no país até a primeira semana de abril.
Arrisquei e Fui para Milão
Após conversar com a minha família, decidi arriscar e comprei o próximo ônibus para Milão, que teve sua partida às 03:35 da manhã. Naquele momento, nenhum funcionário da empresa tinha a informação sobre as fronteiras entre a Itália e a Suíça.
Por sorte, consegui cruzar a fronteira e cheguei às 07:30 em Milão. De imediato, parei um táxi na rua e me dirigi à residência, peguei tudo que encontrei no quarto e coloquei na mala.
No caminho da rodoviária, comprei a próxima passagem disponível com destino a Zurich, com partida prevista para às 09:05. Contudo, naquele mesmo momento o Primeiro Ministro italiano tinha acabado de sancionar o decreto que colocava o norte da Itália em quarentena. Entrei em desespero, já que não sabia se eu poderia cruzar a fronteira rumo à Suíça. A solução foi torcer e aguardar; confesso que foram as horas mais angustiantes da minha vida. Detalhe: eu estava sem dormir há mais de 30 horas.
No horário previsto o ônibus partiu e cruzei a fronteira da Itália com a Suíça 1:15 depois, sem qualquer controle de passaporte ou temperatura e não acreditava que tinha escapdo do lockdown no Norte da Itália. Cheguei em Zurich às 13h00 e aquela sensação de alívio me preencheu.
Voltando para o Brasil
Já em Zurich, precisava encontrar uma maneira de voltar para o Brasil. No site da LATAM, apesar da disponibilidade em business com a British Airways conectando em Londres, não consegui emitir a passagem. No dia seguinte, encontrei outra disponibilidade, desta vez com a Iberia, em business. Com isso, emiti a passagem e cheguei ao Brasil no dia 13 de março, sem qualquer controle ou questionamento sobre onde eu estive durante minha viagem.
Chegando ao Brasil fiz o teste do COVID-19, que teve resultado ‘não detectável’.
Embora haja notícias de que o fechamento das fronteiras perdurará até o segundo semestre, espero poder voltar à Itália no próximo semestre para concluir um sonho que mal começou.
Nota: Mais uma vez, eu gostaria de agradecer ao Fernando por compartilhar conosco sua aventura de como ele escapou do lockdown no Norte da Itália.