Hoje vou responder a uma pergunta que me fizeram há algum tempo atrás aqui no Direto da Galley: Onde os comissários dormem nos voos longos?
A dupla breaks and bunks para a tripulação de cabine, é a combinação regulamentada por órgãos internacionais para garantir que o descanso do comissário seja respeitado durante a jornada e é obrigatório em voos de longa duração.
O famoso sarcófago é uma área restrita e deve permanecer desocupado e fechado durante decolagem e pousos. Geralmente instalados na traseira das aeronaves, acima ou abaixo dos assentos de passageiros, com camas generosas e todo safety equipment, incluindo desde o cinto de segurança até máscaras de oxigênio e extintor de incêndio.
Lembro que no 747-400 tínhamos um banheiro nos bunks e um alçapão para escapar em caso de travamento da porta principal. Sempre me perguntei como seria descer por aquele pequeno quadrado e cair no assento do passageiro …. ainda bem que nunca precisei usar!
Você já percebeu que depois do serviço de bordo em voos de longa duração, a quantidade de comissários diminui? É quando inicia o sistema de rodízio de descanso e nos trancamos naquele cubículo, todos juntos e tiramos o uniforme sem pudor. Não há tempo a perder, cada minuto para esticar as pernas é valioso!
Lembro de situações bem engraçadas com colegas dormindo de pijamas de bichinhos, de bolinhas, outros sem pijamas, só de cueca e meias; ou das muitas calcinhas e soutiens de todos tipos e tamanhos! Houve tempo em que a empresa confeccionou pijamas de fleece para que todos pudessem dormir com um tipo de uniforme e no caso de emergência, poderíamos correr para nossos postos sem trocar de roupa. Não funcionou.
A verdade é que aquele sarcófago era alvo de muitas curiosidades e perguntas frequentes e eu até entendo, mas e quando o passageiro resolvia conhecer e se instalar sem permissão?
Entre tantas coisas inusitadas que presenciei dentro dos aviões em voos intercontinentais, eu não pude acreditar quando ouvi alguém batendo na porta de saída dos bunks durante uma turbulência inesperada.
Era um daqueles voos na econômica lotada, eu trabalhando na porta 5 da direita e atrás do meu assento de tripulante estava a entrada do sarcófago. O comandante clicou o aviso de afivelar cintos e logo em seguida o anúncio avisando da turbulência quando tudo já balançava.
Corri e me sentei no meu assento e nessa hora ouvi batidas na porta quase em desespero e gritos em português. Dois personagens inesquecíveis resolveram descansar, ou “namorar” para melhor dizer na área restrita aos tripulantes. Com certeza algum comissário deixou a porta sem tranca e os espertos se acharam no direito de entrar. Provavelmente algum outro comissário percebendo a porta aberta, trancou com a chave e eles não sabiam como destravar por dentro!
Confesso que minha vontade foi deixar aquelas duas pessoas ali por mais alguns minutos, mas abri a porta em meio ao saculejo da aeronave. Entre pedidos de desculpas e respiração acelerada pedi que se acalmassem e voltassem aos assentos com cuidado, afivelando o cinto de segurança. Depois, é claro, tive que levar a advertência oficial para eles, lembrando que em áreas restritas na aeronave, se não for convidado, não é permitido entrar!
Hoje me recordo da cena com um sorriso leve no rosto, e eles, o que será que contariam desse episódio?
Um abraço e até semana que vem!
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