O Google Street View é um recurso muito utilizado por viajantes para obter uma visão panorâmica de 360º de diversas partes do mundo, mas talvez alguns já tenham percebido que grande parte da Alemanha está fora do mapa da ferramenta. Saiba mais alguns dos motivos que explicam este fato tão curioso.
Aqui você encontra:
Funcionamento do Google Street View
O uso da ferramenta é muito fácil visto que ela está incorporada no Google Maps e é acessível de diversas plataformas, como pelo computador, celular ou tablets.
Ela foi lançada mais de 15 anos atrás, em maio de 2007, e desde então sua popularidade só aumentou. De tal forma, enquanto naquela época poucas ruas de 5 cidades dos EUA eram cobertas pela ferramenta, hoje é possível visualizar interiores de empresas e até lugares inóspitos como o monte Everest ou a Estação Espacial Internacional.
Para acessar os locais disponíveis das vistas panorâmicas é preciso, pelo computador, abrir o site do Google Maps, encontrar o boneco amarelo no canto direito inferior e arrastá-lo até o local desejado. Pelo celular ou tablet é necessário abrir o aplicativo de navegação, segurar a tela por poucos segundos sobre o ponto escolhido e clicar na prévia de imagem que aparecer para abrir a vista panorâmica.
Utilizando o Google Street View na Alemanha
Curioso é o fato quando a tentativa é feita sobre o território alemão. Se perceberem, quando utilizando a plataforma pelo computador, todos os locais acessíveis pelo Street View são mostrados em azul ao segurar o boneco amarelo sobre o mapa. Agora veja a imagem abaixo dos locais acessíveis no continente europeu.
Salvo poucas exceções que não entrarei no detalhe, mas em geral regiões de instabilidade política, o continente é quase que inteiramente disponibilizado pelo recurso comentado neste post. O que chama muita atenção é justamente o buraco ocasionado pela Alemanha, a maior potência econômica da União Europeia e também o país com a maior população.
Cobertura do Google Street View no continente europeu. Imagem: captura de tela do google.com/maps
A Antiga Disputa dos Alemães com a Ferramenta do Google
Mas afinal, por que este fenômeno tão distinto dos países vizinhos? Talvez poucos saibam, mas já é de longa data que a ferramenta do Google não é muito aceita no território alemão. Eles valorizam muito a privacidade de seus dados, logo a ferramenta foi vista como uma afronta à privacidade pessoal.
Como exemplo, a revista Harvard Business Review mostrou neste post valores que diferentes nacionalidades estariam dispostas a pagar para evitar uma quebra de sigilo em seus dados pessoais. Pelo estudo, alemães pagariam até 184 dólares para não ter seus históricos de saúde revelados, enquanto que os britânicos desembolsariam até 59 dólares e os americanos ou chineses uma quantia inferior a 10 dólares.
Assim sendo, ocorreu nos primeiros anos da plataforma um enorme movimento de alemães solicitando ao Google para borrarem as imagens que continham suas residências captadas. O Google normalmente já faz isso para rostos e placas de carro, mas também autoriza o mesmo para residências mediante solicitação.
Foram cerca de 250 mil solicitações até outubro de 2010, o que aumentou significativamente o trabalho para a empresa americana e foi decidido a parada na cobertura de imagens na Alemanha. Com pouco esforço será possível encontrar ruas como a da captura de tela abaixo, em que várias residências na mesma rua possuem as fachadas borradas.
Residências com fachadas borradas após inúmeras solicitações em território alemão. Imagem: captura de tela do google.com/maps
A imagem é da rua Nordendstraße, que fica a poucos minutos do centro de Frankfurt. Outro detalhe a notar é a data que as fotos foram captadas. Com muita frequência as imagens, se em ruas cobertas pelo recurso, já estão muito desatualizadas. A do exemplo acima é de 2008, por exemplo. E estamos falando de uma cidade importante como Frankfurt, a sede do banco central europeu e de inúmeras instituições financeiras.
Mas Qual o Motivo para Tamanha Importância com Privacidade Pessoal?
Inicialmente não há uma resposta certa a esta pergunta, mas há alguns fatores para serem considerados que contextualizam a tamanha preocupação com privacidade.
Talvez o maior deles é o trauma de ter passado por não apenas um, mas dois regimes totalitaristas no último século. Primeiramente o regime nazista do Terceiro Reich durante a Segunda Guerra Mundial e depois o regime comunista da Alemanha Oriental durante a Guerra Fria.
Ou seja, o país possui um triste histórico de controle exacerbado da vida pessoal pelos regimes entre a década de 1930 até o final da década de 1980. Historiadores relatam o uso de polícias secretas com o intuito de proteger a “segurança nacional”, logo os cidadãos não possuíam privacidade neste período.
Esse histórico acabou desenvolvendo o país com uma das leis de proteção de dados mais rígidas do mundo. Firmas internacionais realmente possuem dificuldade de se adaptar à realidade alemã, em um contexto de digitalização que muitos negócios monetizam dados de usuários.
Há outro exemplo clássico na Alemanha. Enquanto que ela possui indústrias famosas pelo altíssimo nível tecnológico, em que muitos produtos alemães são inconscientemente considerados “de qualidade” ou “duráveis”, o sistema de pagamento é ainda muito baseado em papel moeda.
Carteiras como esta são muito comuns em restaurantes alemães. Imagem: megaleder.de
Sim, há uma certa dificuldade de ter cartões aceitos em estabelecimentos na Alemanha, sendo crédito ou débito. Muitos restaurantes (muito mesmo) possuem pesadas carteiras de couro cheias de moedas para dar o troco ao cliente, enquanto que relutam em adotar também um terminal de pagamentos por cartão.
Se por um lado é um cenário confortável para os estabelecimentos, visto que evitam despesas com intermediários bancários, essa fama do papel moeda é também vista como um trauma da vigilância extrema dos governantes do passado.
Por todos esses fatores a abrangência do Google Street View é ainda bem escassa na Alemanha.
Vocês já tinham percebido essa falta de imagens no Google ou o gosto pelo papel moeda na Alemanha? Adoramos ler aqui os comentários dos leitores!
Para Saber Mais
Para ler outros artigos da série Direto da Europa, clique aqui.
Que tal nos acompanhar no Instagram para não perder nossas lives e também nos seguir em nosso canal no Telegram?
O Pontos pra Voar pode eventualmente receber comissões em compras realizadas através de alguns dos links e banners dispostos em nosso site, sem que isso tenha qualquer impacto no preço final do produto ou serviço por você adquirido.
Quando publicamos artigos patrocinados, estes são claramente identificados ao longo do texto. Para maiores informações, consulte nossa Política de Privacidade.
